quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Do mau timing (ou porque é que a cena das doenças me anda a afetar)

Tal como vos disse, a semana passada não foi pródiga em bons momentos, tranquilidade ou coisas do género. Vou-vos contar as coisas às partes, para não desanimarem. Mas olhem que vai sair daqui testamento.

CENA 1
O J. foi fazer um exame médico que implicou um internamento e que nos obrigou a fazer a nossa vida ainda longe do Porto durante um par de dias. Foram, portanto, dois dias de hospital.
Eu desde cedo que estou ambientada aos hospitais (não por ter estado doente, felizmente, mas em função das profissões de familiares) e não sofro especialmente com uma ida a estes locais. No entanto, no último final de semana, a coisa não foi fácil. A intervenção do J. correu muito bem, mas o "pós" da coisa é que foi assustador para mim porque nem sempre pude lá estar e na minha cabeça só passavam cenários menos bons (o que se passa comigo, que nunca fui assim?). Isso e o facto de as enfermeiras terem falado em "hemorragias" (falso alarme), de dois médicos terem arregalado os olhos quando ouviram os relatos das enfermeiras (e de rapidamente os "desarregalarem") e de o J. ter tido tensões a níveis demasiado e assustadoramente baixos (aparentemente normais para a situação) também não ajudou. Impróprio para cardíacos, no mínimo. Verdade seja dita que a velocidade a que esses pensamentos chegavam era exatamente a mesma a que eu abanava a cabeça e os afastava, mas não foi fácil. Então sair do hospital para ir dormir a uma residencial e deixar ali aquele moço foi do pior.

CENA 2
Saí do hospital excecionalmente às 22h, porque lá me calhou uma enfermeira que percebeu que eu, provavelmente, ia precisar mais de apoio médico do que o J., de tão preocupada que estava (mas o J. nunca se apercebeu; que categoria de atriz eu sou, digam lá!). O hospital parecia um cenário de "Walking Dead" - deserto, escuro e assustador. Tive necessariamente de andar sozinha naqueles elevadores enormes e acho que bati recordes nos batimentos cardíacos (eu detesto elevadores). Estava cheia de fome e fui ao shopping mesmo ali perto buscar um menu de sandes para levar e jantar, quando já estivesse devidamente instalada. Ia começar uma nova maratona - descobrir o local de alojamento. Tudo estava já acertado e reservado, mas faltava um pormenor: saber como ir para lá. GPS? Sim, GPS do telemóvel do J. que, por "totozice" minha de não ter verificado tudo, estava em modo pedestre, depois de termos andado há tempos a fazer uma "cache". Um sonho de aventura, portanto. Sozinha de carro, à noite, numa zona escura como tudo, afastada da cidade e o GPS a mandar-me por quelhos. Não bastasse, o nosso senhorio tentou ligar-nos 6 vezes e eu só pensava que, para estar a insistir àquela hora, havia de ter acontecido alguma coisa na nossa casa, uma inundação ou o que valesse. Parei numa zona iluminada (medo e cenários imaginários de carjacking à mistura), pus os quatro piscas e lá devolvi a chamada. Afinal, era um simples pedido para lhe fazermos um favor para a neta. Segui, andei, fiz três inversões de marcha, pus-me por caminhos que não lembram a ninguém e lá dei com aquilo. Cheguei nervosa, digo-vos! Toda eu era suor (um cheiro que até a mim me incomodava, confesso) e o meu estômago devia parecer uma buraco negro. Ainda estive a ligar às nossas pessoas para as descansar e só depois tomei um banho e "jantei". Não dormi nessa noite. Fui dormitando de meia em meia hora e acordei vezes sem conta sobressaltada e toda a tremer. A meio da noite ocorreu-me que não tinha deixado nenhum contacto meu no hospital, pelo que se acontecesse alguma coisa, eu nunca saberia. Pronto, tudo arruinado. As restantes horas daquela interminável noite foram passadas com a televisão ligada e vigilância constante do telefone até chegarem as 7h30 e já não incomodar ninguém com o barulho do chuveiro.

CENA 3
Saí da residencial sem tomar pequeno-almoço (já estava assim programado) e "voei" para o hospital. Pensamentos negativos invadiam constantemente a cabeça e era mais o esforço para os afastar do que para andar, apesar de tudo. Estava psicologicamente um trapo. Tive de esperar até às 9h30 para subir e, nos entretantos, ainda estive a telefonar para um pai de um aluno para agendar o apoio na semana seguinte. Já não aguentava mais a espera e, chegada a hora, lá fui. Fui, que é como quem diz... perdi-me. Hospital mais estranho, aquele! Cheguei quase vinte minutos depois da hora permitida, mas ver o J. foi o recuperar da bateria. Estava bem. E eu estava de novo bem, também.
Estivemos 12h à espera do médico para dar a alta - doze!. 12h sem fazer nada, se poder sair, num quarto partilhado com um doente que, nesse dia, recebeu a pior notícia que se pode receber. Estava a ser tratado a um problema do foro digestivo e respiratório. Para não entrar em pormenores, digo apenas que os médicos nos pediram a nós - J. incluído, que ainda recuperava - para sairmos do quarto. Acho que isto diz tudo. Fiquei muito impressionada e confesso que ainda chorei com aquilo. O senhor nem se apercebeu de quão grave era a coisa (era pouco alfabetizado) e só dizia "Eu quero desistir". Foi muito difícil e impressionante este dia, acreditem.
À tarde, ligou-me uma mãe para obter informações sobre explicações. Mãe muito exigente e rigorosa, que questionava imenso e que fez da chamada quase uma entrevista. Muito simpática, mas claramente a necessitar de ser convencida. Calhou mal, porque o meu telemóvel, nesse preciso momento, entrou em modo "estúpido" (estou plenamente convencida de que o meu telemóvel tem este perfil) e fez cair a chamada para a dita senhora SETE vezes! Eu só imaginava que já tinha perdido a cliente e que estava a dar uma péssima imagem da minha empresa e a transmitir um baixíssimo profissionalismo. A senhora dizia que entendia, mas também já não devia estar muito pelos ajustes (compreensível). Desculpei-me com o facto de estar num hospital e numa zona sem rede e a coisa lá se fez até ao fim. [Percebi ontem que não perdi a cliente; antes, ganhei-a pela minha sinceridade.]
Perto das 21h saímos, fomos jantar e seguimos para casa, no Porto. O J. caiu no sono e assim foi toda a viagem. Chegar à cama e ao nosso espaço foi a melhor coisa em muitos dias. Estava ultrapassada esta 1ª fase má.

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Bem, a descrição já vai longa e isto foram apenas os dois dias mais intensos desta última semana.  Percebem, agora, porque é que esta conversa da mulher me "ver" por dentro me perturbou? Não foi mesmo a melhor fase para ter ouvido aquilo.

No entanto, ainda faltam aqui novidades. Ficará para breve o resto da história e a melhor parte desta semana, que envolve um focinho lindo de morrer e um "cãopanheiro" para a vida. É esperar, faz favor! Conto convosco?

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