segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Olhar para o lado

Hoje. Numa pastelaria.
Ao meu lado, ao balcão, uma senhora. Simples, bem arranjada e muito educada.  Falava com a funcionária que a atendia e pedia-lhe que ficasse com o seu contacto, para o caso de precisarem de alguém para trabalhar. Dizia ela que não havia qualquer problema com horários, distâncias, turnos. Que faria qualquer sacrifício pelos cinco filhos que educa sozinha, pelos pais de quem toma conta, pelo conforto que deseja dar a quem mais ama, mesmo que para isso, abdique totalmente do seu próprio. Tudo em função de um emprego, em função de sete vidas.
Um exemplo, no fundo. E um ensinamento para quem anda e sente todas as batalhas perdidas. 

Aprender com o que nos rodeia, ganhar novo fôlego e seguir em frente. Aprender a vencer as barreiras, contornar o desânimo e lutar com o dobro das forças. Acho que vou experimentar a receita.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Biutiful. Ou nem por isso.

Eu e o cinema temos uma relação estranha. Gosto dele, mas raramente concordo com o que dizem sobre ele. Se me sugerem um local de exibição por o acharem magnífico, eu achá-lo-ei, por regra, mediano; se me "vendem" o discurso de "As pipocas ali são excelentes!", quase de certeza que não sairei de lá convencida e ninguém me tirará a ideia do "Já comi bem melhores..."; e se um crítico diz muito bem de um filme, eu já vou com a pulga atrás da orelha para o ver. Raras vezes - muito raras, até - concordo com os ditos entendidos na matéria ou com as estrelas que atribuem a um filme ou às críticas que fazem a uma película. E a coisa piora, se me vierem com a lengalenga do "Este-filme-já-foi-reconhecido-não-sei-onde-e-galardoado-no-festival-de-cinema-não-sei-quantas-e-ganhou-não-sei-o-quê-dos-Globos-de-Ouro- e-está-nomeado-numa-catrefada-de-categorias-para-os-Óscares-não-me-lembro-é-bem-quais". A sério, não se dêem ao trabalho. Sou pessoa de aplaudir de pé uma obra-prima do cinema, ou não parar de elogiar um actor ou realizador pelo excelente desempenho, se assim achar que merece, mas não à conta de prémios ganhos ou que o podiam ter sido, ou à conta da opinião dos outros. Só à conta da minha. Não é por ser assim que sou "quadrada" ou não percebo nada de cinema. Pensem o que pensem. Nunca fui de ir em correntes e de dizer bem só porque sim, porque fica bem, porque aos olhos dos outros existe alguma espécie de intelectualização repentina de quem vê, não gosta, não entende, e mesmo assim, assente. Poupem-me. Há que aprender a ter opinião, a respeitar os gostos mais ou menos coincidentes, a dizer bem, a dizer mal, mas sobretudo a pensar e a dizer por si.

Isto porque ontem fui ver isto:


E não gostei. Nada mesmo. Já foi reconhecido internacionalmente, esteve nomeado para os Globos de Ouro e ganhou, está nomeado para Melhor filme estrangeiro nos Óscares, tem excelentes críticas, e blá blá blá, mas não me convenceu. A única coisa que realmente gostei foi do Javier Bardem, que tem um desempenho notável. Mas de resto, lamento... é mauzinho. O enredo até que nem é do pior, mas há muita coisa lá para o meio que era dispensável, que quebra, que entedia. 
Haveria muitas formas de contar esta história, eu é que não gostei desta. Azar.

Para mim, vermelho.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

140 anos depois...

... este primeiro escrito de Eça de Queirós ainda se mantém actual. O que é muito mau sinal, digo eu.

"As Farpas" de Eça de Queirós - 1871
«O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os
carácteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»


Verde ou vermelho?


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Dúvida.

Estava a ver uma reportagem sobre um jogo de futebol da Liga e fiquei siderada numa placa publicitária:

 
Surgiu então um pensamento imediato: uma empresa que se chama "Auto Coelhinhos" dedica-se a quê? Ao comércio automóvel fofinho ou a reparações automóveis muito rápidas? 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

E é isto.


Chegada ontem a casa, depois de um dia inundado por mais más notícias sobre orçamentos, dívida pública, cortes salariais, desemprego, trabalho precário, taxas de IVA, preço de combustíveis e afins, concluí: eu vivo num país estúpido, gerido por pessoas estúpidas, numa sociedade que não se mobiliza e estupidifica na inércia. 
Impressionante como ainda me mantenho aqui. Estarei também a ser estúpida à minha maneira?...

Verde ou vermelho?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Chocolate.

Nunca fui muito fã de chocolate. Gostava de o comer quando aparecia meio dissimulado num bolo, num gelado, num qualquer doce, mas nunca fui pessoa de, por exemplo, comer um gelado inteiramente de chocolate ou um bolo que não tivesse um recheio diferente, que "quebrasse" o sabor do ingrediente principal. Mas agora que a minha médica me disse que deveria evitar o chocolate, é quando mais me apetece comê-lo! Estou a entrar num mundo que me pode ser muito perigoso, não por questões estéticas (fica a informação: eu não engordo. E não vale a pena virem com o discurso do "Um dia, lá chegarás" ou "Deixa-te engravidar e vais ver", que isso aqui não pega; já ouço isso há muitos anos e... nada.), mas por uma quebra naquela que considerava uma das minhas grandes façanhas: resistir a tudo o que quisesse resistir. Eu tenho evitado a tentação, a sério que sim. Mas não está fácil. Dou por mim a olhar para os Ferrero Rocher todos que recebi no Natal, sabendo que não lhes vou tocar tão cedo ou a pesquisar receitas de mousses e de bolos com chocolate, sabendo de antemão que não os vou preparar - não porque não queira, mas sim porque não devo. Acho que é uma espécie de compensação: não podendo degustar, entretenho-me a olhar. Mas  não deixa de ser um bocadinho perversa: as imagens daqueles doces, daquelas cores, daquelas consistências ficam aqui gravadas a moer no cérebro e não me largam. Se calhar, devia parar com este masoquismo chocolateiro. Mas antes vou ter de dar uma sovada a esta tentação. Ai vou, vou. 

Verde ou Vermelho?
(Eu cá diria verde.)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Da tolerância

Esta coisa do Carlos Castro está a atingir proporções que me parecem muito questionáveis. Sou intolerante a estes episódios de novela que se começaram a desenhar em muitos programas e revolto-me com os teatros televisivos que se montam a partir de histórias que deveriam exigir o mínimo respeito. Chegou-se a um ponto demasiado baixo, onde se esmiúça sem desdém a vida dos outros, onde se expõe publicamente o que a ninguém diz respeito e onde se coloca em causa os valores de tolerância que tanto custaram a conquistar. Vejo com repugnância o surgimento nas redes sociais de movimentos de apoio ao jovem que cometeu o homicídio e de comentários homofóbicos totalmente imbecis e - para mim - incompreensíveis, sobretudo quando vindos de uma geração muito mais informada e teoricamente mais tolerante à diferença. 
Não percebo as mensagens que circulam, as piadas que se fazem, as teorias que se inventam sobre este crime. Não acho a mínima graça. E não é por se tratar de uma figura pública - eu nunca gostei do Carlos Castro. Detesto a troça que se está a fazer a partir de um caso sério, da facilidade com que um crime hediondo e tão ofensivo pode dar origem a uma chacota nacional e transformar-se de forma tão descabida em matéria-prima para quem quer ter piada. 
Vermelho, sem dúvida.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

À espera da guerra

Ninguém me tira a ideia de que este convite a um boicote generalizado à Galp e à BP, que circula por tudo o que é rede social e comunicação electrónica, foi ideia da Repsol. É só olhar para a tabela de preços desta gasolineira, que é claramente a menos simpática neste momento, e perceber que apesar disso, muito veículo automóvel lá faz fila para abastecer ali mesmo, onde o combustível é mais caro, porque se espera (não estaremos a ser um bocadinho crentes demais?) que entretanto surja do nada  uma guerra de preços entre as duas líderes e tudo se resolva. E no meio disto tudo, imagino os senhores da Repsol a apreciar todo o espectáculo à distância e a esfregar as mãozinhas de satisfação, enquanto nós esperamos uma notícia de abertura de um qualquer telejornal que anuncie a desejada batalha de preços. Sonhadores nós. E um bocadinho inocentes.


Verde ou vermelho?

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entre a regra e a insensatez

Em conversa com uma colega, fiquei a saber que existe uma empresa em Portugal (quantas serão, na verdade?) que cria e impões regras tão estritas aos seus trabalhadores que chegam a roçar o impensável. Dizia-me ela que a dita companhia - de renome, diga-se de passagem - apenas autoriza que os colaboradores façam duas pausas ao longo do dia de trabalho, excluindo a hora de almoço. Até aqui, tudo bem, aliás até me parece bem melhor do que aquilo que muitas empresas que por aí andam possibilitam aos trabalhadores. Mas aqui começam os pormenores de requinte. Cada pausa não pode ser superior a 10 minutos (razoável, sim senhor), mas para a usufruirem, os colaboradores têm de se deslocar a uma sala específica para o efeito, a "Sala de Pausa", situada num edifício independente de todos os outros da mesma empresa, assegurando-se sempre que nunca lá estão mais de cinco pessoas, pois essa é a regra imposta. Isto num universo de centenas de trabalhadores. Piora a situação quando a pausa serve para fumar, comer e beber, tudo simultaneamente numa mescla de interesses e necessidades individuais dos cinco que lá estão e que são continuamente observados por quem está de fora, à espera de "entrar" no único espaço da empresa autorizado para uma pausa. Não bastasse tudo o que de errado existe neste cenário, aos trabalhadores não lhes é permitido beber (beber!) água nos seus gabinetes. Ou seja, um colaborador que queira ou necessite de beber frequentemente líquidos - água, no caso - não o poderá fazer sem ser na dita pausa e no referido espaço. E o mesmo se aplica a tomas de medicamentos e a telefonemas urgentes de carácter pessoal. Parece que ainda não chegou às idas à casa de banho, valha-nos isso. O maior insólito, no entanto, está no facto de estas regras que impedem a ingestão de água pelos colaboradores nos próprios gabinetes ter surgido muito antes da proibição de fumar nos mesmos. Ou seja, desde cedo que não se pode beber água ou ter sequer uma garrafa junto à secretária de trabalho, mas sempre se pôde, até ter entrado a lei do tabaco há dois anos, fumar dentro dos gabinetes (que, por sinal, são bastante fechados e sem saídas visíveis de ar para o exterior).
Surgiu esta conversa porque a minha colega, numa consulta da medicina no trabalho, descobriu estar a desenvolver um pequeno problema nos rins. A conselho médico, terá de beber água várias vezes por dia, algumas vezes por hora. Mesmo tendo dado conta da situação ao departamento responsável, foi informada de que nada será alterado, pois - segundo a política da empresa - a pessoa em causa não pode constituir por si só uma excepção a toda a regra. Perante a minha estupefacção, ela explicou que ninguém se insurge porque a empresa é de renome, tem uma excelente imagem e credibilidade cá fora e oferece uma estabilidade financeira e profissional como poucas outras no país. O que, apesar de tudo, e talvez infelizmente, não deixa de ser verdade. E entretanto vamos vivendo nesta desumanidade crua e fria em que a nossa sociedade se tornou.

Verde ou vermelho?

A cor

Verde Vermelho não é uma cor. Não é uma tradução de preferências clubísticas. Não é uma representação da pátria. Verde e Vermelho é uma metáfora para o que se passa à nossa volta, para o pára-arranca em que vivemos, para o estado em que estamos, para o que de bom e de mau se deve destacar, valorizar, apontar, corrigir. Verde e Vermelho são duas noções do que é certo e do que pode estar errado. E do que nos diz para andarmos ou ficarmos imóveis.
A verde e a vermelho. Eu e quem mais chegar. Bem-vindos.