quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Biutiful. Ou nem por isso.

Eu e o cinema temos uma relação estranha. Gosto dele, mas raramente concordo com o que dizem sobre ele. Se me sugerem um local de exibição por o acharem magnífico, eu achá-lo-ei, por regra, mediano; se me "vendem" o discurso de "As pipocas ali são excelentes!", quase de certeza que não sairei de lá convencida e ninguém me tirará a ideia do "Já comi bem melhores..."; e se um crítico diz muito bem de um filme, eu já vou com a pulga atrás da orelha para o ver. Raras vezes - muito raras, até - concordo com os ditos entendidos na matéria ou com as estrelas que atribuem a um filme ou às críticas que fazem a uma película. E a coisa piora, se me vierem com a lengalenga do "Este-filme-já-foi-reconhecido-não-sei-onde-e-galardoado-no-festival-de-cinema-não-sei-quantas-e-ganhou-não-sei-o-quê-dos-Globos-de-Ouro- e-está-nomeado-numa-catrefada-de-categorias-para-os-Óscares-não-me-lembro-é-bem-quais". A sério, não se dêem ao trabalho. Sou pessoa de aplaudir de pé uma obra-prima do cinema, ou não parar de elogiar um actor ou realizador pelo excelente desempenho, se assim achar que merece, mas não à conta de prémios ganhos ou que o podiam ter sido, ou à conta da opinião dos outros. Só à conta da minha. Não é por ser assim que sou "quadrada" ou não percebo nada de cinema. Pensem o que pensem. Nunca fui de ir em correntes e de dizer bem só porque sim, porque fica bem, porque aos olhos dos outros existe alguma espécie de intelectualização repentina de quem vê, não gosta, não entende, e mesmo assim, assente. Poupem-me. Há que aprender a ter opinião, a respeitar os gostos mais ou menos coincidentes, a dizer bem, a dizer mal, mas sobretudo a pensar e a dizer por si.

Isto porque ontem fui ver isto:


E não gostei. Nada mesmo. Já foi reconhecido internacionalmente, esteve nomeado para os Globos de Ouro e ganhou, está nomeado para Melhor filme estrangeiro nos Óscares, tem excelentes críticas, e blá blá blá, mas não me convenceu. A única coisa que realmente gostei foi do Javier Bardem, que tem um desempenho notável. Mas de resto, lamento... é mauzinho. O enredo até que nem é do pior, mas há muita coisa lá para o meio que era dispensável, que quebra, que entedia. 
Haveria muitas formas de contar esta história, eu é que não gostei desta. Azar.

Para mim, vermelho.


1 comentário:

Jorge disse...

Ora bem. Vamos lá ver se consigo resumir 147 minutos de desgraças: Uxbal (Javier Bardem) é um homem cuja vida é inteiramente repleta de negatividade, ora confirmem:
- é orfão desde muito novo;
- é desempregado;
- vive de negócios de natureza ilícita, tais como o tráfico de chineses, pirataria, emprego ilegal e corrupção policial;
- possui poderes paranormais e vai ganhando mais alguns trocos com isso;
- a mãe dos seus dois filhos, além de ser prostituta, é alcoólica e padece da doença Bipolar (Ah! E é tão feia que mais parece a parte traseira de um esquentador...)
- a educação e vida digna dos seus filhotes são a sua maior preocupação;
- quando a vida estava a correr tão bem (não é...) descobre que possui um cancro na próstata em fase terminal;
- para se redimir tenta praticar o bem (mas a pouca sorte continua a seu lado...) e tudo corre pelo pior...
- os seus últimos dias são vividos com muito sofrimento, mas tudo isto nunca chega a descorar a sua honra e força de viver.
Ufa! Acho que está tudo! Agora, olhando para trás e avaliando este rol de "tragédias", penso que, a única coisa de positivo que Alejandro González Iñarritu podia colocar na vida de Uxbal era mesmo o HIV. Chiça!!! De "Biutiful" não tem nada...

Contudo, o realizador pretende dar-nos, da forma mais dramática possível, um pouco da visão da realidade dos nossos dias. Mas, como foi dito, havia outras formas de "tocar" no assunto. Além disso, muitas vezes a nossa vida já é suficientemente deprimente, que não é preciso se deslocar a uma sala de cinema para ficarmos nesse estado. Mas hoje para se ser nomeado parece que se tem que ser trágico e depressivo...enfim...

Resta salientar a excelente interpretação de Javier Bardem e o merecido prémio de Cannes.

Assim, aqui fica para ele um Verde e para tudo resto Vermelho.