quinta-feira, 12 de abril de 2012

A bela arte de encher chouriços e de eu, inocente, cair na esparrela. Mas sempre com um sorriso, que eu cá não sou antipática.

Ia eu a caminho do centro do Porto, quando encontro no autocarro uma ex-colega de trabalho do meu pai que, dito assim de forma rápida e objetiva, é uma chata do pior. A senhora é simpática e - calha bem - sempre gostou muito de mim, pelo que, assim que me encontra seja onde for, sai de onde estiver para ir "ali" falar comigo. 
Sou muito sincera - eu hoje até a vi a entrar no autocarro e a sentar-se, mas não estava com disposição para grandes conversas e, por isso, fiz que não a vi. Está bem, abelha, não a vês tu, mas viu-te ela a ti! Levanta-se de imediato do lugar onde está, vem ter comigo, e mesmo antes de um "olá", pergunta-me onde vou sair. Faltando (infelizmente) ainda umas valentes paragens até à minha de saída, ela prontamente se veio sentar a meu lado, logo que vagou o lugar e disse "Ainda bem, que assim podemos falar um bocadinho". Na minha mente, tenho a ideia de ter revirado os olhos, espero que tenha sido só um gesto puramente mental. Mas lá suspirei com um sorriso, conversa de circunstância, béu béu béu e tudo para chegar ao motivo de hoje.
- "A Joana ou o seu paizinho já entregaram o IRS?"
Pronto, imaginei-me logo a ter de arranjar uma desculpa para não lhe ir fazer o IRS, que eu não gosto desse tipo de intimidades com qualquer um. Afinal, o problema não era a entrega do IRS, mas como raio a senhora, que o tinha feito num computador público, poderia obter o comprovativo. Há várias formas, mas para isso calhava bem a senhora ter um mail ou ter gravado a declaração ou qualquer comprovativo numa pen, pelo menos. Não. Nada de nada. Lá lhe expliquei uma forma alternativa e achei que a coisa estava tratada. Chegou a nossa paragem e saímos. Algum ânimo meu. Eis senão quando a senhora me chapa com mais uma pergunta: 
- "Eu instalei o JAVA, mas agora quero tirá-lo de lá. Tenho de ir ao site das Finanças, é isso?"
"Respira fundo, Joana", pensei eu. Expliquei-lhe que não, que tinha de ir ao Painel de Controlo e por aí fora, tudo bem explicadinho. Foi coisa de 10 segundos. A senhora num ápice se despediu de mim com um "Bem Haja" e me deu a entender que tudo o que lhe disse foi só para ter tema de conversa na viagem.
E ali fiquei eu, parvinha, parada no meio da rua, com a sensação de que deveria ter saído umas paragens antes e ter investido nuns quilómetros a pé até ao meu destino. 
Não sei se fui útil ou não (presumo com muita convicção que não), mas dei o meu melhor. Senti-me um bocadinho parva, mas pronto, deve fazer parte do que os deuses escolheram para mim, hoje.


Sem comentários: