quarta-feira, 1 de junho de 2011

Entre o querer ir e o ficar


Falava outro dia com uma amiga sobre o futuro e sobre o que estará à nossa espera. Fizemos um breve balanço do que foram os nossos últimos 10 anos e, chegadas ao momento presente, nenhuma de nós esboçou um grande sorriso. Não estamos onde há 10 anos pensávamos poder estar. Não temos tudo o que achávamos óbvio e natural ter - uma família constituída, um emprego certo, uma tranquilidade a vários níveis. Em vez disso, vivemos na base do "mais ou menos", em que tudo é uma indefinição e em que apenas as boas coisas que temos e que conseguimos alcançar - mesmo se poucas em número - nos animam e nos ajudam a não querer baixar os braços e a desanimar. 
Sobre o futuro, um enorme ponto de interrogação. Não quero saber o que virá, nem tão pouco antecipar ou apressar o que for. Quero viver cada dia, simplesmente. Mas com expectativas, com entusiasmos, com desafios. E isso falta. Falta muito, na verdade. Tenho saudades da pessoa que fui, que se aventurava, que sorria sempre, que lutava mesmo quando havia dúvidas se iria conseguir e que apenas se agarrava ao desejo de alcançar aquela meta. Tenho saudades dessas dúvidas e do prazer das concretizações que se desenhavam difíceis, mas que se tornavam reais. Tenho saudades de arriscar, de ir, de me por à prova.
Hoje são ainda muitas as dúvidas, mas já não sobre se irei conseguir ou vencer, mas sim sobre a própria decisão do ir, do partir, do deixar. Há muita coisa que me prende, outra tanta que me empurra. E eu estou no meio, desejosa de dar passos maiores, mas ciente da necessidade de não colocar outras conquistas - que não só as minhas - em risco. Sei que quero ir, mas que também quero ficar. E sei que não queria estar neste lugar onde estou - entre a sombra e a indefinição.

" (...)
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem 
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou."

Fernando Pessoa
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