segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O meu retrato.

Quanto mais tento andar para a frente, mais me sinto a ser puxada para trás. Sinto-me a desistir a cada passo que dou. Estou desacreditada... em mim, nos outros, neste país. Perdi o sentido do que é a "esperança", o "ânimo" ou a "calma" que tanto me pedem, deixei de conseguir assumir adágios, provérbios e outros ditos populares sobre a persistência, a determinação e tudo o mais que faz parte do mesmo lote. Estou cansada. Sinto-me uma derrotada, uma profissional fracassada nos seus objectivos, uma mulher incapaz de definir um rumo para a sua vida e que, desse modo, compromete o dos que mais ama. Cada vez mais vivo sem expectativas, sem o entusiasmo de um desafio, de um obstáculo, de uma prova que quero dar a alguém. Tenho quase 30 anos e nunca me senti tão inútil, tão vazia e tão descartável como hoje. E não gosto daquilo em que me tornei, em que este país me tornou. Tenho vergonha de pertencer a uma geração muito mais formada que as chefias e que é constantemente pisada; de pertencer a uma sociedade vendida, que desvaloriza o trabalho, a resiliência ou a determinação em detrimento de amizades ou  favores; de pertencer a um país podre, onde todos parecem comer a palha que lhe dão, sem sequer questionar o que quer que seja. Estou cansada do silêncio, da falta de um grito de revolta, da impassividade. De uma inércia balofa que uma geração ainda jovem assume como normal e cómoda. Do parasitismo.

Tenho 29 anos, uma licenciatura, uma Pós-Graduação, um ano de estudos no estrangeiro e vários anos de experiência na minha área... e não tenho emprego. Sou explorada todos os dias num regime independente, que me obriga a pagar valores astronómicos para sustentar famílias inteiras que não fazem nenhum e que se governam muito melhor do que eu à conta de Rendimentos Sociais de Inserção e demais subsídios. Sou obrigada a contribuir para uma sociedade inerte, no fundo. E com a certeza de que as contribuições que agora faço em nada me garantirão o meu futuro ou a minha velhice. Vejo-me a viver num mar de sargaço, como dizia Pessoa, em que não me consigo mover, em que me afundo a cada dia, sem que consiga encontrar um pouco de ar para respirar e ganhar novo fôlego. Estou desacreditada... em mim e nos outros. Perdi a batalha e possivelmente o norte do que ambicionava ser.


2 comentários:

Matias disse...

Um texto forte e intenso, sem dúvida. Um murro no estômago em certas passagens.

Uma coisa é certa: a nossa motivação e a nossa determinação são cíclicas. A dias de desilusão seguem-se dias de esperança e força crescentes. Oxalá o teu ciclo decrescente seja curto. Um novo dia podem significar novas oportunidades ou pelo menos olhares e perspectivas diferentes.

Joana disse...

Muito verdade. Mas este é um ciclo demasiado longo, doloroso e cansativo...
Obrigada pelas palavras, Matias.