quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A minha relação com a Igreja.

Eu e a Igreja estamos numa fase de algum afastamento. Já fomos muito chegadas, talvez por influência da minha educação católica, quer em casa, quer na escola. Mas a idade trouxe uma outra visão das coisas e, ao contrário do que muitos pensam, mudei a minha opinião baseada nos meus próprios juízos críticos e não naquilo que se diz por aí e que é moda.
Hoje em dia, muitas pessoas afirmam ser ateias, simplesmente porque nem sequer se querem dar ao trabalho de pensar no sentido da existência humana e consideram ser mais prático e consensual afirmá-lo. Outras - talvez poucas - são-no realmente por convicção. Umas pessoas são agnósticas e deixam em aberto a possibilidade da existência de algo que nos é superior; outras simplesmente dizem que o são, sem saber por que o são. E outras são crentes e têm as sua própria fé e devoção.

Eu continuo a dizer que sou católica, mas confesso que já me senti muito mais próxima da minha Igreja. 
A religião que me acompanhou no meu crescimento - ou a forma como eu a via e vivia - não é a mesma que eu vivencio agora, já adulta. Tornei-me crítica e há muitas coisas com as quais me sinto muito frustrada e que me desacreditam desta religião. A situação piora quando sou confrontada com tradições, preceitos e devoções exageradas, que me criam uma espécie de afrontamento e me fazem sentir quase sufocada. Detesto perceber que ninguém é capaz de ver o óbvio nalguns aspetos da Igreja, que todos parecem hipnotizados por aquilo que alguns membros eclesiásticos demandam e decidem, sem que constituam qualquer exemplo do que professam, entre tanta coisa mais. Mas respeito.

Continuo a afirmar-me católica, mas sou-o à minha maneira, na minha própria forma de viver os princípios da religião que me foi ensinada em criança e com a qual aprendi a viver bem e a tornar-me num bom ser humano. Não gosto de seguir cegamente rituais, datas ou celebrações. Não gosto de velas, de promessas ou de qualquer tipo de exageros. Não gosto da religião desenhada à maneira dos Homens, porque há muita coisa que Deus não quereria que fizéssemos e que a Igreja católica professa como inquestionável. Não gosto de muita coisa, mas também reconheço que preciso da fé para estar em paz e ser feliz, e que há coisas na Igreja Católica que continuam a fazer muito sentido para mim.
Eu sei que para as pessoas que me rodeiam e que convivem comigo mais proximamente, isto faz confusão, sobretudo porque são todas devotas. Mas eu quero continuar sempre a ser católica na minha forma própria e pessoal de viver a minha fé. E isso não implica procissões, devoções exageradas a santos ou a locais santos ou qualquer outra coisa. Implica simplesmente a minha proximidade com Deus. Se não me forçarem a ser o que não quero e a ir aonde eu não quero e me deixarem simplesmente viver a minha fé à minha maneira, eu sou uma pessoa em paz e feliz. Para mim, basta-me isto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu também passei por isso. Neste momento considero-me agnóstica porque simplesmente não posso negar completamente a existência de algo que não sei, mas confesso que hoje tenho muita dificuldade em acreditar na religião (instituição), seja ela qual for. Não sei. Pronto. Mas fui criada de forma a que fui literalmente obrigada a fazer a comunhão solene e em que foi uma luta compreenderem que eu não queria fazer o crisma. Cheguei mesmo a ter discussões acesas porque achava uma estupidez obrigarem alguém a fazer algo em que não acreditam. Obrigar alguém dessa forma é pura ignorância da minha família (mãe). Se acreditava na existência de Deus, sim. E, tendo em conta a forma como fui criada, era quase uma questão de ter algo (se não a única coisa) a que a certas alturas me podia "agarrar" (quando não tens algo concreto a que te possas agarrar resta-te a possibilidade de algo), mas era também algo que inspirava um certo medo (se não fizer isto ou se não for assim sei lá o que me acontecerá), era algo doentio. Se me moldou em termos de moral e princípios, sim, mas nem sempre de forma positiva. Se vou mudar de ideias, não sei, provavelmente, mas não é moda. É o que sinto. E acho que faz de mim melhor pessoa. Até porque tenho bons e maus exemplos daquilo que considero ser-se "boa pessoa" por parte de quem se diz muito religioso e de quem se diz ser ateu. Ou então também pode ser uma questão de idade. Ela dá-nos clareza de ideias e muda-nos ou simplesmente vai-nos tornando mais naquilo que realmente somos sem ter de haver necessariamente uma mudança. Parece-me que a idade nos leva a apurar mais o nosso verdadeiro eu e se temos muito mais dúvidas do que certezas ou fé, então não vale a pena enganarmo-nos a nós próprios. E não é o facto de não acreditar na existência de um ser divino ou na existência do céu/inferno após a morte que me vai tornar numa pessoa menos empática, caridosa e moral.
E também sou uma pessoa em paz e feliz à minha maneira. E quando não o sou, ou não o fui, não tem a ver com religião institucionalizada nem mesmo com fé.
K